A comunicação se fez rápido e, meia hora depois, todos já estavam prontos para seguir rumo ao observatório natural, onde poderíamos desfrutar por algumas horas de céu límpido: a chácara do Sr. Aroldo Garbuio.
Compareceram os confrades Maurício, Osvaldo, Sérgio, Carlos e Adriano. Faltou somente o confrade Cristopher, que por motivos de força maior não pode comparecer. Quase todos os membros chegaram ao mesmo tempo. Nuvens baixas eclipsavam o sol poente que as atravessava com seus raios dourados, deixando o horizonte oeste na tonalidade sépia. Pássaros desconhecidos celebravam o final do dia dando rasantes sobre as nuvens de insetos que pairavam sobre as nossas cabeças.
Na rodovia, o fluxo contínuo de luzes vermelhas ruborizava a vegetação, deixando-a mais hostil aos olhos pacíficos.
Qual foi a nossa surpresa quando vimos o confrade Osvaldo montando um telescópio dobsoniano SkyWatcher, de 150 mm de abertura e f/D 8. Todo equipamento é bem-vindo e, estando este praticamente virgem, não nos faltou vontade de pô-lo a prova.
Assim que o disco solar mergulhou, Júpiter surgiu imponente a aproximadamente 15 graus do horizonte oeste. Atacamos sem demora. Os telescópios SkyWatcher (150 mm e 300 mm) mostraram a que vieram, e nos apresentaram imagens espetaculares das faixas coloridas da densa atmosfera do planeta, somente atrapalhadas pelo tremular constante da instável atmosfera terrestre e do vento fustigante que assolava o topo da colina onde nos encontrávamos. As quatro principais luas apresentavam-se esplendorosas, principalmente Calisto, que se inclinava um pouco ao norte em relação às outras três.
A Lua Nova exibia sua foice branca manchada de cinza, cicatrizes profundas das pelejas de outrora. Os canhões ópticos foram lançados sobre ela, nossa próxima vítima. Com o olho na ocular, tínhamos uma visão tridimensional das áreas próximas à sombra, marcada pelo relevo acidentado. Adentrando à penumbra, picos brilhantes fulguravam com a luz do astro rei, futuras instalações humanas. Pelo resto da noite ela nos serviu como gueixa nas nossas taras científicas.
O Cruzeiro do Sul erguia-se lamurioso, circunavegando o polo celeste. A Grande e a Pequena Nuvem de Magalhães ludibriavam nossas mentes ainda descrentes de sua natureza. Nuvens, sim. Nuvens de poeira cósmica, gases estelares, brigadas de mundos e, quiçá, civilizações.
A constelação de Touro, límpida, nos mirava através de seu gigante olho, Aldebaran. Próximo à ponta de um dos chifres estava a difusa, mas não menos bela nebulosa do Caranguejo, ou M1. Durante a observação, levantamos a possibilidade de o astrônomo francês ter inicialmente considerado M1 como um cometa. Notando que não errava pelo céu, catalogou-o como objeto do espaço profundo.
Logo depois nos aventuramos na caçada da nebulosa do Esquimó (NGC 2392), na constelação de Gêmeos. Não obstante buscarmos exaustivamente, nada encontramos. Além de tênue, a nebulosa planetária apresenta magnitude 9, o que tornou sua localização manual impossível. O mesmo aconteceu com a Nebulosa da Roseta (NGC 2246), em Monoceros.
Como sempre, os objetos mais luminosos foram explorados com entusiasmo. Nebulosa de Órion (M42), Aglomerado do Presépio (M44), Ômega Centauro, 47 Tucanae (NGC 104) e Caixa de Jóias (NGC 4755).
A grande surpresa da noite foi Saturno, que nasceu próximo das 21 horas (Brasília). Mesmo com a desvantagem do horizonte leste, trêmulo e poluído, conseguimos distinguir com perfeição o espaço entre os anéis e o planeta. Titã destacava-se ao lado do gigante, juntamente com Rhea, plácida sobre o véu negro.
Por falta de contribuição meteorológica abandonamos os astros, velados pela fina camada de nuvens que se espalhou por toda a abóbada celeste. Relutantes, recolhemos os equipamentos e com pesar deixamos o posto avançado de observação, felizes com o breve espetáculo.
Muito bem foi perfeito em seu comentário.
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